Em atitude que alguns consideram destemida, e outros julgam irresponsável, o diretor Marcelo Machado decidiu desconsiderar as regras mais basilares do cinema não-ficcional e lançou Tropicália, uma história do movimento tropicalista que passa ao largo tanto de Motta quanto de Buarque. As primeiras sessões causaram perplexidade e revolta, além de dois aneurismas e pelo menos um ataque apoplético. Em Recife, duas senhoras desmaiaram ao se dar conta de que a sequencia sobre o Festival da Canção de 67 não traria um único compasso de Chico Buarque interpretando Roda Viva. As duas receberam primeiros socorros e estão em condição estável.
A crítica está polarizada. “É um divisor de águas”, escreveu, estupefato, o crítico Luiz Zanin, do Estadão: “Reputo o gesto de Machado como um dos mais radicais da história do cinema, de par com a câmera em movimento de Griffith e com os efeitos de edição de Dziga Vertov e Eisenstein”. Já seu colega da Folha Inácio Araújo comparou Tropicália a um animal vertebrado que tivesse involuído e retornado ao caldo primal que antecede a vida. “Não há estrutura, não há tessitura narrativa, não há nada”, desgostou-se, acusando o projeto de “niilista”.
Cercado de jornalistas, documentaristas e astros da MPB, Nelson Motta explicou o contexto em que se deu a ruptura. “Estávamos eu, Caetano Veloso e João Gilberto compondo um jingle para Marcelo Freixo quando soubemos da notícia. Foi uma algazarra. Em sintonia com a mudança nos ventos, Caetano se negou, inclusive, a emitir uma opinião e João saiu à rua para abraçar populares”. A cena será usada no longa-metragem documental A ruptura de Nelson Motta: vestígios do Brasil moderno, de Silvio Tendler, que não contará com a direção de fotografia de Walter Carvalho. “Vou chutar o pau da barraca, já não tenho mais nada a provar”, explicou o diretor de Os Anos JK.
No final do dia, Protógenes Queiroz ameaçou processar Tropicália. “Trouxe o meu filho de 11 anos para ver o Nelson Motta”, escreveu no Twitter.
por Piauí Herald
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