Édipo Rei
A
mitologia grega não é composta apenas por grande heróis guerreiros e
quase imbatíveis (Perseu, Heráclito, Odisseu, entre outros), muito
próximos dos super-heróis que tanto sucesso fazem nos dias de hoje, mas
também por uma outra classe destes, os chamados heróis trágicos (que
evidentemente inspiraram autores como Shakespeare, como é possível
verificar em Otelo e Hamlet), sendo seu exemplo mais perfeito (pelo
menos na opinião de Aristóteles), Édipo.
A
história de Édipo contada pelo poeta Sófocles é a seguinte: Laio, rei
de Tebas, a uma visita ao Oráculo de Delfos, é avisado que seria morto
por seu filho e este casaria-se com sua própria mãe. Desta forma o rei,
tentando evitar seu trágico futuro, fura os pés de seu filho
recém-nascido, Édipo, e ordena seu súdito a matar o menino em um
penhasco, entretanto Jocasta, sua esposa, entrega-o a um pastor que por
sua vez o entrega ao rei de Corinto, Políbio.
Édipo
já adulto vai visitar o mesmo oráculo e este lhe revela que mataria seu
pai e desposaria sua mãe. Assim, acreditando ser filho biológico dos
reis de Corinto, foge. Em suas viagens, encontra em uma encruzilhada, um
homem que pensa ser um ladrão e depois de uma briga o mata. O homem
como já pode se esperar é Laio, seu pai.
Por uma
obra do destino, Édipo chega a Tebas, até então tomada por um esfinge
(metade mulher, metade leão) que propunha um enigma ainda não desvendado
para todos os viajantes e devorava-os casos não acertassem. O enigma
era o seguinte: “Qual é o animal que tem quatro patas de manhã, duas ao
meio-dia e três à noite?”. O jovem acerta ao responder o homem (que ao
amanhecer é a criança engatinhando, o entardecer é a fase adulta, que
usamos ambas as pernas, e o anoitecer é a velhice quando se usa a
bengala) e livra a cidade do monstro, ganhando como prêmio por sua
façanha a mão da rainha-viúva Jocasta, se tornando o rei da cidade.
O
casal vive feliz, têm quatro filhos e realizam um grande reinado até
uma grande peste assolar a cidade. Como solução resolve-se consultar o
oráculo de Apolo e este revela que a peste só terá fim quando o
assassino do rei Laio for encontrado e punido. Édipo, desta forma, roga
uma praga ao assassino desejando a este “uma vida amaldiçoada e má, pela
sua maldade, até o fim de seus dias” e inicia uma grande busca que
acaba por não trazer nenhum resultado.
Deste modo,
se vendo obrigado a continuar sua busca por outros meios, Édipo
consulta o adivinho Tirésias, que revela ser Édipo o assassino de Laio.
Por meio de Jocasta e a história de seu filho entregue ao pastor que é
confirmada pelos sinais nos pés perfurados de Édipo, toda a verdade vem à
tona e este em um ato de desespero fura seus olhos como punição por não
ter reconhecido sua própria mãe e foge de Tebas para, como seu ultimo
ato como rei, livrar a cidade da peste. Jocasta se mata e seu irmão
assume o poder.
Interpretação
A
história de Édipo é riquíssima porque aborda muitos temas e é
responsável por causar uma reflexão nos seus leitores ou ouvintes, no
caso da Grécia Antiga. O primeiro dos temas é a tensão entre pais e
filhos que tanto se faz presente na mitologia grega, sendo um exemplo a
luta de Zeus e Cronos. O fato desse tema ser sempre abordado é devido ao
sistema patriarcal que marcava a região, no qual o homem mais velho da
família era sempre o chefe e detentor das terras, criando-se muitas
disputas entre pais e filhos; irmãos ou primos.
Uma
característica da obra interessante é que Sófocles une vilão e herói em
Édipo, possuindo este as melhores virtudes; como a inteligencia que o
leva a decifrar o enigma da Esfinge e um bom caráter, uma das razões por
ter sido um bom rei, cumprindo sua promessa de punir o assassino de
Laio, mesmo depois de saber que ele mesmo o era; e os piores pecados,
sendo exemplos o orgulho, impulsividade, a vontade de sempre se mostrar
um guerreiro, que o leva a matar o viajante por causa de uma simples
discussão.
Agora com certeza o grande ponto da
história é a reflexão por ela realizada sobre o destino e o
livre-arbítrio. Pelo fato de Édipo e Laio terem feito tudo que parecia
mais viável para modificar aquilo que o Oráculo de Delfos afirmava ser o
futuro e mesmo assim este ter acontecido, a maioria das interpretações
do conto afirmam que a grande mensagem transmitida é a existência do
destino, a incapacidade do homem de modificar sua sina, ou ainda a
impotência do homem em relação a vontade dos deuses.
Mas
o conto abre brecha ainda para outra interpretação, e talvez esteja
neste ponto a riqueza desta história milenar. Quando se olha sob uma
óptica antropocêntrica, percebe-se que Édipo é o único responsável por
seu destino, cometendo o primeiro erro ao confiar cegamente nas
profecias (representando exatamente isso o fato da personagem se cegar
no fim) e depois tomando uma série de atitudes, jamais tomadas em
condições normais, somente por causa desse fantasma que se tornam as
previsões do Oráculo de Delfos, assombrando-o em todo o decorrer da
história.
Complexo de Édipo
Freud
era grande fã da obra platônica e por isso buscou muitas referências ao
seu trabalho na Grécia Antiga, sendo um exemplo disso o fenômeno que
ele percebeu trabalhando com seus pacientes, o complexo nuclear das
neuroses, mais conhecido como Complexo de Édipo.
Desde
seu nascimento, a criança é acostumada com a toda proteção e carinho,
principalmente dos pais, e sofre uma espécie de estranhamento quando por
volta dos três anos de idade começam a surgir situações em que é tolida
por aqueles que outrora só lhe davam carinho, sendo este o inicio do
Complexo de Édipo, o qual na opinião de Freud é o mais importante
estágio de uma pessoa, pois este determina a totalidade de sua vida
psíquica.
Nesta fase a criança começa a perceber
que existe uma diferença entre ela e as pessoas mais adultas, da mesma
forma que percebe a diferença entre o sexo masculino e feminino e cria
uma espécie de fixação com a pessoa mais próxima do sexo oposto, na
grande maioria das vezes o pai para as meninas e a mãe para os meninos.
Desta forma, por exemplo o menino, passa a repudiar todos aqueles que
possuem a atenção de sua mãe, como seu pai, ao mesmo tempo que os admira
por serem seus exemplos para a vida adulta; é nesta fase que o menino
começa a imitar o pai, para tentar desviar a atenção da mãe para si e
também por querer de alguma forma ser igual ou parecido a ele.
Assim
o pequeno alimenta os instintos naturais e os desejos inconscientes
formados pelo seu id por meio dessa obsessão pelo progenitor ou
representante deste (uma vez que o principal instinto de todos seres é a
reprodução), ao mesmo tempo que seu superego (razão) os reprime. Desta
forma o ego (consciente) tem de encontrar um equilíbrio, satisfazendo
tanto ao id e ao superego. Se as atitudes dos pais quanto ao filho não
forem demasiado estimulante ou proibitiva, este encontrará um equilíbrio
facilmente e passará esta fase harmoniosamente, caso contrário, a
criança criará “traumas” que terão consequências na vida adulta.
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