quarta-feira, 26 de setembro de 2012

Édipo, destino e complexos.

ediporei
Édipo Rei
A mitologia grega não é composta apenas por grande heróis guerreiros e quase imbatíveis (Perseu, Heráclito, Odisseu, entre outros), muito próximos dos super-heróis que tanto sucesso fazem nos dias de hoje, mas também por uma outra classe destes, os chamados heróis trágicos (que evidentemente inspiraram autores como Shakespeare, como é possível verificar em Otelo e Hamlet), sendo seu exemplo mais perfeito (pelo menos na opinião de Aristóteles), Édipo.
A história de Édipo contada pelo poeta Sófocles é a seguinte: Laio, rei de Tebas, a uma visita ao Oráculo de Delfos, é avisado que seria morto por seu filho e este casaria-se com sua própria mãe. Desta forma o rei, tentando evitar seu trágico futuro, fura os pés de seu filho recém-nascido, Édipo, e ordena seu súdito a matar o menino em um penhasco, entretanto Jocasta, sua esposa, entrega-o a um pastor que por sua vez o entrega ao rei de Corinto, Políbio.

Édipo já adulto vai visitar o mesmo oráculo e este lhe revela que mataria seu pai e desposaria sua mãe. Assim, acreditando ser filho biológico dos reis de Corinto, foge. Em suas viagens, encontra em uma encruzilhada, um homem que pensa ser um ladrão e depois de uma briga o mata. O homem como já pode se esperar é Laio, seu pai.
Por uma obra do destino, Édipo chega a Tebas, até então tomada por um esfinge (metade mulher, metade leão) que propunha um enigma ainda não desvendado para todos os viajantes e devorava-os casos não acertassem. O enigma era o seguinte: “Qual é o animal que tem quatro patas de manhã, duas ao meio-dia e três à noite?”. O jovem acerta ao responder o homem (que ao amanhecer é a criança engatinhando, o entardecer é a fase adulta, que usamos ambas as pernas, e o anoitecer é a velhice quando se usa a bengala) e livra a cidade do monstro, ganhando como prêmio por sua façanha a mão da rainha-viúva Jocasta, se tornando o rei da cidade.
O casal vive feliz, têm quatro filhos e realizam um grande reinado até uma grande peste assolar a cidade. Como solução resolve-se consultar o oráculo de Apolo e este revela que a peste só terá fim quando o assassino do rei Laio for encontrado e punido. Édipo, desta forma, roga uma praga ao assassino desejando a este “uma vida amaldiçoada e má, pela sua maldade, até o fim de seus dias” e inicia uma grande busca que acaba por não trazer nenhum resultado.
Deste modo, se vendo obrigado a continuar sua busca por outros meios, Édipo consulta o adivinho Tirésias, que revela ser Édipo o assassino de Laio. Por meio de Jocasta e a história de seu filho entregue ao pastor que é confirmada pelos sinais nos pés perfurados de Édipo, toda a verdade vem à tona e este em um ato de desespero fura seus olhos como punição por não ter reconhecido sua própria mãe e foge de Tebas para, como seu ultimo ato como rei, livrar a cidade da peste. Jocasta se mata e seu irmão assume o poder.
Interpretação
A história de Édipo é riquíssima porque aborda muitos temas e é responsável por causar uma reflexão nos seus leitores ou ouvintes, no caso da Grécia Antiga. O primeiro dos temas é a tensão entre pais e filhos que tanto se faz presente na mitologia grega, sendo um exemplo a luta de Zeus e Cronos. O fato desse tema ser sempre abordado é devido ao sistema patriarcal que marcava a região, no qual o homem mais velho da família era sempre o chefe e detentor das terras, criando-se muitas disputas entre pais e filhos; irmãos ou primos.
Uma característica da obra interessante é que Sófocles une vilão e herói em Édipo, possuindo este as melhores virtudes; como a inteligencia que o leva a decifrar o enigma da Esfinge e um bom caráter, uma das razões por ter sido um bom rei, cumprindo sua promessa de punir o assassino de Laio, mesmo depois de saber que ele mesmo o era; e os piores pecados, sendo exemplos o orgulho, impulsividade, a vontade de sempre se mostrar um guerreiro, que o leva a matar o viajante por causa de uma simples discussão.
Agora com certeza o grande ponto da história é a reflexão por ela realizada sobre o destino e o livre-arbítrio. Pelo fato de Édipo e Laio terem feito tudo que parecia mais viável para modificar aquilo que o Oráculo de Delfos afirmava ser o futuro e mesmo assim este ter acontecido, a maioria das interpretações do conto afirmam que a grande mensagem transmitida é a existência do destino, a incapacidade do homem de modificar sua sina, ou ainda a impotência do homem em relação a vontade dos deuses.
Mas o conto abre brecha ainda para outra interpretação, e talvez esteja neste ponto a riqueza desta história milenar. Quando se olha sob uma óptica antropocêntrica, percebe-se que Édipo é o único responsável por seu destino, cometendo o primeiro erro ao confiar cegamente nas profecias (representando exatamente isso o fato da personagem se cegar no fim) e depois tomando uma série de atitudes, jamais tomadas em condições normais, somente por causa desse fantasma que se tornam as previsões do Oráculo de Delfos, assombrando-o em todo o decorrer da história.
Complexo de Édipo
Freud era grande fã da obra platônica e por isso buscou muitas referências ao seu trabalho na Grécia Antiga, sendo um exemplo disso o fenômeno que ele percebeu trabalhando com seus pacientes, o complexo nuclear das neuroses, mais conhecido como Complexo de Édipo.
Desde seu nascimento, a criança é acostumada com a toda proteção e carinho, principalmente dos pais, e sofre uma espécie de estranhamento quando por volta dos três anos de idade começam a surgir situações em que é tolida por aqueles que outrora só lhe davam carinho, sendo este o inicio do Complexo de Édipo, o qual na opinião de Freud é o mais importante estágio de uma pessoa, pois este determina a totalidade de sua vida psíquica.
Nesta fase a criança começa a perceber que existe uma diferença entre ela e as pessoas mais adultas, da mesma forma que percebe a diferença entre o sexo masculino e feminino e cria uma espécie de fixação com a pessoa mais próxima do sexo oposto, na grande maioria das vezes o pai para as meninas e a mãe para os meninos. Desta forma, por exemplo o menino, passa a repudiar todos aqueles que possuem a atenção de sua mãe, como seu pai, ao mesmo tempo que os admira por serem seus exemplos para a vida adulta; é nesta fase que o menino começa a imitar o pai, para tentar desviar a atenção da mãe para si e também por querer de alguma forma ser igual ou parecido a ele.
Assim o pequeno alimenta os instintos naturais e os desejos inconscientes formados pelo seu id por meio dessa obsessão pelo progenitor ou representante deste (uma vez que o principal instinto de todos seres é a reprodução), ao mesmo tempo que seu superego (razão) os reprime. Desta forma o ego (consciente) tem de encontrar um equilíbrio, satisfazendo tanto ao id e ao superego. Se as atitudes dos pais quanto ao filho não forem demasiado estimulante ou proibitiva, este encontrará um equilíbrio facilmente e passará esta fase harmoniosamente, caso contrário, a criança criará “traumas” que terão consequências na vida adulta.

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