“Atrás das imagens existem
cenários. As árvores, carros, paredes brancas e logotipos são como
pessoas. Nós, massa sem fermento, não passamos de aglomeração e
estatísticas percentuais. Cenário e figuração. Rabo de olho.”
Estas
frases já estão massificadas, não é? Diversos panfletos, livretos,
jograis e rodinhas de jovens comunistas utilizam essas ideias de “autodegradação” para poderem viver, só mais um pouco.
Durante esta semana me deparei numa
discussão sobre religiões. Na ocasião, eu era o cenário da fotografia.
Alguém lá atrás que passou sem ser notado. De um lado, um crente quase
ateu, cético, agnóstico, com ares de jogador de pôquer e do outro um
evangélico, manso, meio nas nuvens ou acima delas. Um afirmava que Deus
era o princípio e o fim. O outro debochava da bíblia. “Como posso seguir um livro que não sei quem escreveu?” afirmava o bendito descrente.
Tentei entrar na briga, como juiz, mas
com que direito poderia julgar as pedras e o vento? Com que dever me
obrigaria a tal feitio? Pelo menos, a escuta das réplicas e tréplicas
dos lutadores me fizeram pensar na Rede Record e seu dono. Um cara como
Edir Macedo, devotado, fiel às práticas religiosas e à sua missão
profética na terra, deve ter um nobre motivo para manter a atual
programação da Record.
Imaginem um homem, que desde cedo já
era devoto aos propósitos divinos e que passou a vida inteira a pregar a
palavra de Deus, perambulando por todos os lugares e religiões, e que
finalmente conseguiu criar/construir o seu templo, o primeiro. Então,
percebendo a grandiosidade de sua obra, este homem resolve utilizar os
meios de comunicação para obter mais alcance, mais fiéis, mais templos e
mais… E mais!
De repente, numa jogada de mestre,
altamente espiritual, este homem de Deus se tornou dono da (atualmente)
segunda melhor emissora de televisão no Brasil. A missão salvadora de
Macedo estava completa. Eu também achava que sim. Bem, era de se esperar
que ele tirasse do ar todas as telenovelas, programas com conteúdo
picante e demais besteiras que corrompem a moral e os bons costumes de
seus fiéis, agora milhares pelo Brasil inteiro.
Vinte anos já se passaram e o único
momento em que Macedo utiliza seu “maior” bem para propagar suas
profecias é a madrugada. Durante o dia, seus apresentadores/obreiros têm
outra missão: Destruir a Rede Globo ou TV Satanás, para os íntimos. Ou
seja, no momento mais oportuno para a propagação dos ideais macedianos, ele vira o jogo. As olimpíadas são bem mais importantes que a transmissão do culto de terça-feira. Por que será?
Não que eu me incomode com isso. Quem
se incomodaria? Afinal, não pago dízimo para eles e nunca fui a nenhum
culto. Já até pensei em ir numa sessão de descarrego, mas preferi tomar
uma taça de vinho e escrever uma canção.
A Rede Record só trabalha para a obra
de Deus depois da meia-noite. E o que existe depois das doze badaladas?
Lobisomens (se for sexta-feira e tiver lua cheia), reprises do Sem
Censura (excelente), insones procurando canais, endividados procurando
dinheiro (coitados) e o público cativo do Jô. Mas vejam só, o “Fala que eu te escuto”
também não faz parte dos planos “evangélicos” de Edir Macedo. Na
verdade, os pastores tentam competir com o Corujão global. Páreo duro
viu? Depois da meia-noite hoje já é amanhã.
O bispo é muito inteligente. Deve estar
aguardando o melhor momento para expor suas ideias. Por enquanto,
ouvimos uma coisa ou outra em mensagens subliminares durante a
programação. Mas, dificilmente uma pessoa que dá tudo que tem sem saber
para quem entenderá as “entrelinhas universais”.
Diego Schaun no Twitter @DiegoSchaun
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