quarta-feira, 17 de outubro de 2012

Evangelismo: a maior mentira da História

Introdução
Este não é um opúsculo acadêmico, no sentido estrito do termo. E nem mesmo poderia ser: qualquer professor ou pesquisador ligado a uma universidade estaria se expondo a perder sua cadeira ou ajuda de custo para pesquisa, se se atrevesse a publicar algo de teor parecido com esta obra. Pois, de fato, para muitos esta obra será considerada execrável, blasfema, digna de ser queimada após a leitura. E isso, pelo simples fato de que aqui, em não muitas páginas repletas de citações, viemos desmascarar a maior mentira que já foi propagada em toda a história da Humanidade. Fazemos isso não por desconsiderar aquele que teve seus ensinamentos criminosamente deturpados por grupos fanáticos, sedentos de poder, coisa que ele mesmo certamente desaprovaria de forma extremamente veemente.
Estamos, sim, honrando a memória de um número gigantesco de inocentes que foram massacrados num espaço de vários séculos, unicamente porque não queriam se curvar perante a grande mentira. E também em honra a esses heróis inocentes, que decidimos que este trabalho seria lançado apenas virtualmente, no formato de um e-book, podendo ser livremente distribuído por quantos assim o desejem desde que inalterado em seu teor (“sine adulterare“). Num mundo corrompido, em que mercenários se levantam em todos os campos com a única intenção de saciar sua sede por dinheiro, optamos em reverenciar o nobre costume da Velha Tradição, que não permite que se faça da religião um comércio. Estamos certos de que fundamentalistas de todos os matizes não aprovarão esta obra, que certamente tentarão desacreditar como “coisa do demônio”; afinal, estaremos aqui gritando para todo o mundo a respeito do mal que fizeram e ainda fazem à Humanidade. Porém, não serão mais inocentes os fundamentalistas que conseguirem ler todo este trabalho; as mentiras que divulgam, muitas vezes crendo tratarem-se de verdades incontestáveis, caem como castelos de cartas diante do vento poderoso da História das antigas civilizações, notadamente da gloriosa Civilização Egípcia, por razões ligadas estreitamente às mesmas mentiras que tem sido apregoadas há tantos séculos.

Também teremos uma pequena parte demonstrando os métodos utilizados para que a grande mentira fosse imposta à força às populações de todo o mundo, com ênfase na Europa, por termos relatos históricos confiáveis à disposição, e por nos mostrar que, basicamente, os mesmos métodos baixos de caluniação e descrédito estão em uso até hoje contra os que não querem mais seguir a grande mentira. Nos abstivemos deliberadamente de encerrar o presente com uma “conclusão”; não porque nos faltem condições para tal, mas sim para deixar ao leitor espaço para tirar suas próprias conclusões.

O início da trama
É crença muito difundida, e pouco analisada, de que os cinco primeiros livros da Bíblia teriam sido escritos por Moisés. Os próprios teólogos não mais crêem nisso, embora praticamente não se comente a este respeito dentro das igrejas, e quando se comenta, o piedoso objetivo do comentário quase sempre é classificar os teólogos como “hereges”. De acordo com o que em Teologia se chama de “alta crítica” – que trata de questões referentes à autoria e integridade dos textos bíblicos – , os referidos livros foram escritos por volta de 700 a.E.V1, ou seja, muitos séculos depois dos acontecimentos narrados. A respeito de Moisés, o suposto autor desses livros, os pesquisadores Knight e Lomas, em sua obra “A Chave de Hiram”, informam que:
“[...]Mas antes de nos aprofundarmos na questão das datas é importante lembrar aquilo que sabemos sobre esse homem chamado Moisés e o que a Bíblia nos conta sobre os israelitas e seu novo deus. Percebemos que o nome Moisés é verdadeiramente muito revelador. Estranhamente, a Bíblia Católica Romana Douai informa a seus leitores que significa “salvo das águas”, quando na verdade quer simplesmente dizer “nascido de”. Esse nome Moisés sempre requeria um outro nome que o prefixasse, como por exemplo, Thotmoses (nascido de Thot), Ramsés (nascido de Rá) ou Amenmosis (nascido de Amon). Apesar do elemento “moisés” ser soletrado de maneiras diversas em outras línguas que não o egípcio, significa sempre o mesmo, e nos parece provável que o próprio Moisés ou talvez algum escriba posterior tenha abolido da frente de seu nome o nome de algum deus egípcio, alguma coisa assim como tirar o Donald de um nome escocês, deixando-o apenas com o Mc, em vez de McDonald. A definição católica romana está provavelmente errada, mas se existir alguma verdade histórica nessa idéia, pode ser que o nome de Moisés tenha sido nascido do Nilo”, e então ele se chamaria Hapymoses” (grifamos).
“[...]. Qualquer Faraó que desse uma ordem dessas estaria abrindo mão de seu direito a uma vida eterna quando seu coração fosse pesado. Além do mais, em termos práticos teria sido muito desagradável e pouco saudável ter milhares de corpos em decomposição flutuando na praticamente única fonte de água potável da população. De acordo com o Antigo Testamento, a mãe de Moisés estava decidida a não permitir que seu filho morresse, portanto, colocou-o nos juncos da beira do Nilo em uma cesta impermeabilizada com piche, na qual ele foi encontrado pela filha do Faraó. Faz tempo já se percebeu que esse episódio de nascimento é quase idêntico ao de Sargão I, o rei que dominou a Babilônia e a Suméria centenas de anos antes de Moisés. Uma comparação rápida mostra as similaridades óbvias:

Sargão
"Minha inconstante mãe Concebeu-me: e me teve Em segredo Ela me colocou em uma cesta de vime, com betume selando A tampa. Ela me atirou ao rio, Que não me cobriu."

Moisés
"… uma mulher Levita. concebeu e teve um filho… ela o escondeu por três meses. Mas não podia escondê-lo mais. Então ela conseguiu uma cesta de vime, tornou-a impermeável com barro e Piche, colocou-o na cesta. E a colocou nos juncos da Margem do Nilo.“(grifamos)"

Temos, logo de início, três valiosas informações: primeiro, o nome de Moisés estava originalmente ligado ao de uma divindade do panteão egípcio. Os autores sugerem que isso se deva ao fato de que Moisés teria de fato um papel importante na corte egípcia de então. Segundo, a monstruosa ordem atribuída a Faraó no sentido de que todos os bebês hebreus do sexo masculino que nascessem fossem eliminados, estaria em total desacordo com os princípios éticos e religiosos do Egito, e faria com que o Faraó perdesse seu direito à vida eterna. Curiosamente, o Livro dos Mortos egípcio mostra que uma das perguntas do Tribunal de Osíris, que tinham que ser respondidas pelos mortos, era se a pessoa havia sujado as águas do Nilo – que seria então do egípcio que enchesse o Nilo de cadáveres! Em terceiro lugar, temos a constatação da semelhança entre as histórias de Moisés e Sargão I da Babilônia. É interessante notar que o atual alfabeto hebraico é, na verdade, assírio, e foi adquirido exatamente durante o período do exílio na Babilônia. Isso parece reforçar a visão da Alta Crítica segundo a qual os livros do Antigo Testamento foram escritos a partir do ano 700 a.E.V.

A narrativa bíblica diz que Moisés teria libertado o povo hebreu da escravidão do Egito, e que seus pedidos a Faraó eram no sentido de que o povo fosse ao deserto oferecer um sacrifício a Yahweh, o deus do povo de Israel. Porém, a esse respeito a História registra que

"“Após a expulsão dos hicsos, semitas de todos os tipos, ai incluídos os Habiru, devem ter-se tomado bastante impopulares, e isso explicaria porque os sempre amigáveis egípcios subitamente escravizaram muitos ou todos os remanescentes em seu país durante a década de 1560-­1550 a.C. Inscrições dos séculos XVI e XV a.C. foram encontradas dando detalhes desses escravos Habiru e de seus trabalhos forçados. Uma delas conta como era grande o número dessas pessoas forçadas a trabalhar em minas de turquesa o que deve ter sido extremamente perigoso sem ventilação e com archotes queimando todo o oxigênio. Foi interessante perceber que essas minas estavam a muito pouca distância da montanha de Yahweh, o Monte Sinai, nas montanhas ao Sul da península de Sinai. Seria isso uma coincidência, ou poderia ser que o movimento de escravos Habiru tivesse se dado aqui em vez de no próprio Egito? Achamos registros que indicam que apesar desses protojudeus falarem a língua canaanita, eles adoravam deidades egípcias e ergueram monumentos aos deuses Osíris, Ptah e Hator, o que não combina com a imagem dos nobres e escravizados seguidores de Yahweh ansiosos para serem levados a Jerusalém pelo “deus de seus pais” (grifamos)."

Quem quer que já tenha ao menos lido a Bíblia conhece a expressão “Eu sou o SENHOR, que te tirou do Egito”, repetida inúmeras vezes em todo o Antigo Testamento (como em Êxodo 20:2 , Deuteronômio 8:14 e Deuteronômio 20:1 , por exemplo). Esta expressão vem comumente após alguma determinação apresentada como uma ordem direta de Yahweh, que não poderia ser desobedecida. Porém, acabamos de perceber que toda a história de Moisés está extremamente “mal contada”; há a inegável cópia da história de Sargão I da Babilônia, o nome Moisés tem significado totalmente diferente do que fomos acostumados a acreditar e, fato igualmente ou até mesmo mais importante, há registros históricos de que os hebreus (habirus) no Egito não cultuavam Yahweh como seu deus, e sim, as deidades egípcias. Os mesmos autores lembram da divergência existente a respeito da data em que Moisés teria vivido, sem mencionar, porém, uma questão decorrente da narrativa bíblica: segundo a Bíblia, Moisés feriu o Egito com dez pragas devastadoras; pela narrativa, o Egito teria ficado completamente arrasado, devido à natureza e extensão das pragas. Porém, não há nenhum registro na história do Egito que pelo menos sugira que semelhantes calamidades possam ter ocorrido na extensão narrada pela Bíblia; de outra forma, nos parece evidente que teria sido extremamente fácil fixar a época exata da existência de Moisés e do tão falado “êxodo”! Já foi mencionado o fato de que, excetuando-se a praga da morte dos primogênitos, todas as outras nada mais são do que fenômenos naturais, que já foram observados várias outras vezes, inclusive a vermelhidão das águas do Nilo, como mencionado pelo próprio Werner Keller em “A Bíblia tinha razão”.

Estas observações são extremamente importantes, uma vez que os dogmas explicitamente autoritários utilizados como pretexto para se fazer um número absurdamente alto de vítimas de todas as idades, em vários séculos de história2, baseiam-se em narrativas que, à luz de fatos históricos documentados, mostram-se notoriamente manipuladas em seu teor. Não entraremos aqui em investigações sobre os diversos (e possivelmente ímpios e sórdidos) motivos que poderiam ter levado os antigos sacerdotes e escribas a legitimarem tamanha falsificação; nosso objetivo é, antes de mais nada, provocar a reflexão do leitor, despertar o desejo de conhecer a verdade por si próprio, para que o mesmo jamais se deixe levar por “verdades” supostamente absolutas, “reveladas” por algum “profeta” ou “iluminado”. Nem mesmo nos arvoramos em detentores de nenhuma verdade absoluta; o único “título” que nos habilita a falar sobre este assunto é o de ex-seminarista, tendo cursado o primeiro ano do Seminário Teológico Presbiteriano do Rio de Janeiro, com aprovação em todas as disciplinas, durante o ano de 1999 E.V. Outrossim, fazemos questão de citar as fontes das informações aqui reproduzidas, a fim de que qualquer pessoa interessada em desmascarar a presente “obra do diabo” possa descobrir por si mesma onde estão, respectivamente, as verdades e as mentiras.

O grande “mestre iniciado” e incompreendido
É amplamente difundida no mundo a crença em que Jesus era o “cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo” (Evangelho de João 1:29). Já vimos, anteriormente, que a definição de “pecado” está inserida em um contexto dogmático que se baseia em narrativas que, à luz da História, mostram-se comprovadamente deturpadas. Estariam também deturpadas as narrativas que temos a respeito de Jesus?

A maioria das pessoas conhece apenas as narrativas bíblicas sobre Jesus, contidas nos evangelhos atribuídos aos apóstolos Mateus, Marcos, João e Lucas (sendo que Lucas não chegou a conhecer Jesus pessoalmente, como ele mesmo admite), e tende a acreditar que são os únicos relatos disponíveis a respeito do Mestre. Entretanto, isso não é verdade; segundo os próprios teólogos admitem, existem pelo menos mais onzeevangelhos datados da mesma época dos quatro evangelhos chamados canônicos 3. De acordo com os gnósticos, esse número seria de algumas dezenas. Porém, nos limitaremos aos onze mencionados, por estarem já relativamente bem difundidos, inclusive pode-se fazer o download dos mesmos via internet com bastante facilidade. Estes outros evangelhos, doravante chamados aqui de “evangelhos apócrifos”, trazem suas próprias versões da história de vida de Jesus. Alguns episódios lembram bastante os canônicos, porém, há algumas narrativas ligeiramente diferentes, outras completamente estranhas ao contexto bíblico como o conhecemos normalmente. No evangelho de Pedro (que não possui divisões em capítulos e versículos por não se tratar de texto canônico e sim apócrifo) podemos ler as seguintes passagens:

"“[...]Como Maria havia lavado as fraldas do Senhor Jesus e as estendera sobre umas madeiras, o menino possuído pegou uma das fraldas e colocou-a sobre sua cabeça. Imediatamente os demônios fugiram, saindo pela boca, e foram vistos sob a forma de corvos e serpentes. O menino foi curado instantaneamente pelo poder de Jesus Cristo e se pôs a louvar o Senhor que o havia libertado e rendeu-lhe mil ações de graça”."

“Havia lá um filósofo, astrônomo sábio, que perguntou ao Senhor Jesus se ele havia estudado a ciência dos astros. Jesus, respondendo-lhe, expôs o número de esferas e de corpos celestes, sua natureza e sua oposição, seu aspecto trinário, quaternário e sêxtil, sua progressão e seu movimento de leste para oeste, o cômputo e o prognóstico e outras coisas que a razão de nenhum homem escrutou.”

“[...]José concordou e também Maria. Levaram, pois, a criança para o professor e assim que ele o viu, escreveu o alfabeto e pediu-lhe que pronunciasse Aleph. Quando ele o fez, pediu-lhe para dizer Beth. O Senhor Jesus disse-lhe: – Dize-me primeiro o que significa Aleph e aí então eu pronunciarei Beth. O professor preparava-se para chicoteá-lo, mas o Senhor Jesus pôs-se a explicar o significado das letras Aleph e Beth, quais as letras de linhas retas, quais as oblíquas, as que tinhas desenho duplo, as que tinham pontos, aquelas que não tinham e porque tal letra vinha antes da outra, enfim, ele disse muitas coisas que o professor jamais ouvira e que não havia lido em livro algum. O Senhor Jesus disse ao professor: – Presta atenção ao que vou te dizer! E pôs-se a recitar clara e distintamente Aleph, Beth, Ghimel, Daleth, até o fim do alfabeto. O mestre ficou admirado e disse: – Creio que esta criança nasceu antes de Noé. Virando-se para José, acrescentou: – Tu o conduziste para que eu o instruísse, mas esta criança sabe mais que todos os doutores. Depois disse a Maria: Teu filho não precisa de ensinamentos.”

A narrativa de Pedro mostra Jesus versado em Astrologia, apesar da clara e severa proibição da Torah:

Deuteronômio 17:3-5
indo servir outros deuses ou adorando o sol, a lua, ou o exército dos céus – o que eu não mandei -, se te derem aviso disso, logo que o souberes, farás uma investigação minuciosa. Se for verdade o que se disse, se verificares que realmente se cometeu tal abominação em Israel, farás conduzir às, portas da cidade o homem ou a mulher que cometeu essa má ação, e os apedrejarás até que morram.

Em relação às letras do alfabeto hebraico, mostrou também conhecimentos da Kaballah judaica. A primeira passagem é de um notório exagero: as fraldas que Jesus usava quando era um bebê tinham poder sobre espíritos malignos! Isto mostra que estes relatos, tendo sido escritos décadas depois dos acontecimentos, contém diversas imprecisões e mistificações. De qualquer modo, é de se notar que, descontado o exagero de se dizer que Jesus, ainda criança, já era um exímio conhecedor de Astrologia e Kaballah, a menção a esses conhecimentos mostra que ele era certamente um iniciado, ou seja, não era um homem comum. Outro fato digno de nota em relação aos apócrifos é que nem todos mencionam a ressurreição de Jesus, apesar de ser o dogma fundamental do Cristianismo como o conhecemos. Alguns sequer mencionam a crucificação. Eis uma explicação lógica para o fato de que, na própria Bíblia, podemos facilmente verificar que os primeiros cristãos consideravam-se judeus, e porque não havia consenso entre eles em relação à necessidade ou obrigatoriedade de pregar o evangelho aos não judeus: como, de fato, um evento monumental como a ressurreição poderia ter passado despercebido por diversos autores destes evangelhos apócrifos? Como a alegada “grande comissão” de Jesus para que os discípulos pregassem “a toda criatura” poderia, como o próprio Novo Testamento deixa claro, ser notoriamente desconhecida entre vários destes discípulos, se fosse verdadeira?

Podemos considerar, por sinal, que a doutrina conhecida hoje como “cristã” é, na verdade, “Paulina”, ou seja, de autoria ou pelo menos grandemente influenciada por Saulo de Tarso. Bittencourt afirma que

“Logo após a morte de Paulo em Roma por volta do ano 64, surge naquela mesma cidade o Evangelho de Marcos, provavelmente no ano 65, e que serviria de base a duas outras grandes obras futuras. Cópias deste Evangelho logo encontraram seu caminho até as mais distantes partes do império.

Partindo do trabalho de Marcos, cuja conexão com Pedro e com a cidade de Roma lhe dava grande autoridade, Mateus escreve seu Evangelho provavelmente em Antioquia da Síria e Lucas na Grécia, o primeiro entre 80-85 e o último entre 85-90.
E por fim, parecendo desconhecer os outros três, o Quarto Evangelho surge na última década do século, provavelmente em Éfeso”(grifamos).

Podemos inferir claramente deste texto, extraído de um livro de Teologia Cristã, é bom frisar, que Paulo teria exercido uma considerável influência sobre os autores dos quatro evangelhos considerados canônicos pelas igrejas, uma vez que suas cartas teriam sido escritas antes de qualquer um deles. A respeito de Paulo de Tarso, Knight e Lomas nos informam que
O assassinato do Rei dos Judeus pelo procurador romano criou muita publicidade, em toda Israel e mais além, e pessoas começaram a se interessar pelo movimento messiânico. Uma dessas pessoas foi um cidadão romano de nome Saulo, vindo de uma área que hoje é ao sul da Turquia. Seus pais haviam se tornado judeus da Diáspora e ele era um jovem que tinha sido criado como judeu mas sem nenhuma das atitudes e cultura dos puros seguidores de Yahweh em Qumran. A idéia de que seu trabalho era perseguir cristãos é uma insensatez óbvia, porque esse culto não existia nessa época. Os Nazoreanos, agora liderados por Tiago, eram os judeus mais judaicos que é possível imaginar e o trabalho de Saulo era simplesmente, por conta dos romanos, desarticular qualquer movimento remanescente que buscasse a independência.

Os Mandeanos do sul do Iraque, como já discutimos, são Nazoreanos que foram expulsos de Judá e cuja migração pode ser datada com precisão em 37 E.V.: portanto, é quase certo que o homem que os perseguiu foi o próprio Saulo, aliás, Paulo. Saulo deve ter sido o terror do movimento judaico de libertação por dezessete anos, já que era o ano de 60 d.C. quando ele subitamente se viu cego na estrada para Damasco. Hoje em dia se acredita que Saulo não tinha autoridade para prender ativistas em Damasco mesmo se lá houvesse algum, o que parece bastante improvável, e seu destino era, no entender de muitos estudiosos, a Comunidade de Qumran, que era sempre chamada de “Damasco”. Sua cegueira e a recuperação da visão foram simbólicos de sua conversão a um dos partidos da causa Nazoreana. O fato do destino de Saulo ser efetivamente Qumran está claro em Atos 22:14, em que lhe informam que ele seria apresentado ao “Justo”, uma referência óbvia a Tiago. (grifamos)

Logo no primeiro século, a doutrina dos Nazoreanos, os verdadeiros seguidores de Jesus, já havia chegado em vários outros países, inclusive nas Ilhas Britânicas, onde foi estabelecido o chamado Cristianismo Celta. Os cristãos celtas não acreditavam na divindade de Jesus, nem aceitaram a supremacia de Roma e, por estes motivos, seus líderes foram massacrados pela igreja romana. É de se notar, pela leitura das cartas paulinas, que o cristianismo paulino já surgiu com uma evidente vocação para a anatematização de pensamentos discordantes. Sobre isso Knight e Lomas nos esclarecem que

“Uma seita chamada de os Ebionim ou Ebionitas era descendente direta da Igreja de Tiago, seu nome sendo exatamente o mesmo que os Qumranianos usavam para descrever-se – Ebionim, que como sabemos significa “os Pobres”. Esta seita tinha os ensinamentos de Tiago, o Justo, em alta conta, e acreditava que Jesus havia sido um grande mestre mas um homem comum, não um deus. Eles ainda se consideravam como judeus e acreditavam que Jesus tinha sido o Messias após sua “coroação” por João. Há registros que também mostram que eles odiavam a Paulo, a quem viam como o inimigo da verdade. Por muito tempo depois da morte de Jesus e Tiago, os termos Ebionita e Nazoreano eram usados para significar a mesma coisa, e essas pessoas eram condenadas, sob ambos os nomes, como hereges pela Igreja de Roma. No entanto todos os descendentes da Igreja de Jerusalém, exceto o desvio Paulino, acreditavam que Jesus tinha sido um homem e não um deus, portanto, é apenas o próprio e enfeitado Vaticano e seus seguidores que são os verdadeiros pagãos ou “hereges”(grifamos).

As discordâncias entre os cristãos do primeiro século eram notórias, sendo inclusive admitido pelos teólogos que os livros do Novo Testamento foram escritos, entre outros motivos, com o propósito de combater heresias. Esta vocação para amaldiçoar os que crêem de outra forma fez com que a igreja escrevesse algumas das mais infames e vergonhosas páginas de toda a História da Humanidade.

Discípulos envergonhando seu Mestre e sua doutrina
Logo no início da história da igreja, seus seguidores já estavam divididos em vários partidos, sendo que o partido paulino, para infelicidade da Humanidade, acabou prevalecendo sobre os demais e veio a se tornar aquilo que conhecemos como igreja cristã. Outros grupos de seguidores, além dos Nazoreanos, eram os vários grupos gnósticos, sendo que alguns desses já existiam antes de Jesus, e absorveram seus ensinamentos. Os gnósticos também não acreditavam na divindade de Jesus, considerando-o como um iniciado. A ligação entre Jesus e a comunidade de Qmram, bem como seus conhecimentos de Astrologia e Kaballah, demonstrados no evangelho apócrifo de Pedro, mostram que, de fato, ele teria sido um iniciado. Os ensinos contidos em alguns evangelhos apócrifos mostram, entre outras diferenças em relação ao cristianismo conhecido, que a doutrina de Jesus, ao contrário do cristianismo paulino, era tolerante e valorizava as mulheres, considerando-as tão dignas de honra quanto os homens.

Infelizmente, não foram estas as idéias que prevaleceram na igreja, que acabou se transformando numa monstruosa máquina totalitária, exterminando comunidades inteiras, como na cruzada conta os cátaros (uma seita cristã gnóstica) no sul da França do século XIII. Depois de perseguir e quase eliminar os gnósticos, que passaram a praticar suas religiosidades em sociedades secretas, o totalitarismo eclesiástico de Roma voltou-se contra os pagãos, não porque eles realmente praticassem as absurdas torpezas descritas no infame “Malleus Maleficarum“– o famigerado “manual da caça às bruxas” da Inquisição – mas simplesmente porque a Antiga Religião fazia felizes os seus praticantes, que não viram razão para abandoná-la e filiar-se à igreja, apesar das reiteradas e mentirosas pregações no sentido de que os Antigos Deuses nada mais eram do que diabos disfarçados, e que as alegres reuniões pagãs, os sabbaths, eram cultos demoníacos. Nesta insana campanha de perseguição e difamação, as mais grotescas e inverossímeis histórias foram criadas sobre sacrifícios de bebês, transformação de pessoas em animais, e refeições imundas durante as celebrações. Até mesmo animais, supostamente associados ás bruxas, foram considerados amaldiçoados, e ainda hoje há quem acredite, por exemplo, que gatos “trazem má sorte”, que ouvir uivos de cães ou pios de coruja significa que alguém conhecido irá morrer, e outras tolices do mesmo tipo. Porém a despeito do absurdo conteúdo do “Malleus Maleficarum”, ele foi aceito até mesmo pelas igrejas reformadas como “referência” em relação à bruxaria e, em nome dessa estupidez, estima-se que nove milhões de pessoas tenham sido executadas pela Inquisição entre os séculos XV e XVIII. Este nefando livro, certamente uma das mais abomináveis coisas já engendradas pela mente humana, advogava o uso da tortura para obtenção de confissões, e fornece detalhes sobre instrumentos e métodos de tortura a serem utilizados. Sobre o Malleus Maleficarum, seus autores e demais autoridades eclesiásticas que apoiaram esta obra hedionda, cabe o comentário de Gardner que “enquanto existirem padres assim não haverá necessidade de se evocar demônios”. Gardner reproduz o comentário de um piedoso clérigo que reclamava que, numa região da Europa, “ninguém comentava sobre outra coisa a não ser o último sabbath, e não se esperava outra coisa que não fosse o próximo”.

Em nome de um “Mestre Iniciado” que jamais pregou a violência ou o extermínio de seguidores de quaisquer outros cultos, pessoas inocentes foram, durante vários séculos, cruelmente torturadas e assassinadas, pelo simples fato de seguirem outra religião. Comunidades inteiras foram exterminadas. Culturas inteiras perderam-se totalmente, sem que nenhum registro seja conhecido, devido ao vandalismo e à intolerância dos missionários. Em nome de um Mestre Iniciado que jamais amaldiçoou seguidores de outras crenças, quaisquer que elas fossem, seus pretensos seguidores, ainda hoje, espalham o veneno da intolerância religiosa, inclusive utilizando-se dos mais modernos meios de comunicação para essa hedionda tarefa. Em nome de um Mestre Iniciado que ensinou seus discípulos a serem verdadeiros, seus atuais seguidores não hesitam em mentir descaradamente a respeito de outras religiões, a fim de apresentá-las como “enganos do diabo” e, dessa forma tão pouco digna, conseguir novos adeptos. Não somente os espíritas, esotéricos e praticantes das religiões afro são assim caluniados: até mesmo o catolicismo tem sido reiteradamente atacado por outras igrejas, que o consideram “idólatra”, sem considerar a “idolatria” que tem sido praticada e divulgada, com ampla cobertura de mídia e dentro destas mesmas igrejas, em relação aos “artistas gospel”, e mesmo em relação a alguns pastores “famosos”.

Em nome de um “Mestre Iniciado” que teve seus primeiros discípulos entre os mais pobres de Israel, sendo ele mesmo um dos pobres, as atuais lideranças religiosas que dizem “seguir seus ensinamentos” utilizam-se de diversas formas de pressão psicológica sobre seus desventurados rebanhos, a fim de amealhar a maior quantia de dinheiro possível. Não se contentam com o mandamento bíblico do dízimo, certamente insuficiente para financiar o escandalosamente milionário estilo de vida de muitos dos atuais líderes religiosos: utilizam-se dos mais variados, absurdos e às vezes manifestamente ridículos pretextos para “levantar ofertas”, fazem permanentes “campanhas de associação”, divulgadas através de programas de televisão e de emissoras de rádio adquiridas por essas lideranças, campanhas estas com os mais variados nomes, porém, todas com o intuito em comum de arrecadar mais dinheiro.

Em nome de um “Mestre Iniciado” que teria ensinado certa vez seus discípulos a “dar a César o que é de César e a Deus o que é de Deus”, seus atuais seguidores, pretensos “representantes de Deus na Terra”, desenvolvem cada vez mais uma obsessão pelo poder político, muitas vezes deixando clara a intenção de legislar no sentido de impor a observância de seus dogmas a toda a sociedade, desprezando o conceito de separação entre Estado e Religião. A atuação de vários destes pretensos “representantes divinos” na política se caracteriza por uma repulsiva desfaçatez, sendo que vários se envolveram em escândalos de corrupção política.
Em nome de um “Mestre Iniciado” que ensinou seus discípulos a serem fiéis á verdade dos fatos, alguns de seus pretensos seguidores, logo no início da história do cristianismo, não hesitaram em falsificar deliberadamente relatos a fim de fazer parecer que estavam pregando não a doutrina de um grande iniciado, mas do próprio Deus que teria se encarnado na Terra a fim de livrar a Humanidade do “engano dos demônios”, como os atuais seguidores alegam até hoje quando se referem a qualquer religião de origem não cristã. Estes mesmos pretensos seguidores do primeiro século não hesitaram em caluniar nem mesmo seus próprios companheiros, estes sim, discípulos verdadeiros, mas que eram considerados “hereges” e acabaram sendo perseguidos e anatematizados pelos falsificadores da doutrina.

Em nome de um “Mestre Iniciado” que, segundo os seus atuais seguidores, veio para libertar, prega-se abertamente contra a liberdade humana, e aqueles que se colocam a favor da liberdade são considerados “hereges”, “blasfemos”, “inimigos de Deus”. Formas novas de expressão, novos estilos musicais, livros e filmes tem sido reiteradamente apontados como “obras do diabo”, unicamente por apregoarem a liberdade. A pregação insistente de que manifestações artísticas populares, não cristãs, são necessariamente “demoníacas”, com a conseqûente e pouco disfarçada interdição da apreciação destas manifestações por membros de várias igrejas, não somente é uma maneira hipócrita de criar um “mercado alternativo” para que “artistas” de talento muitas vezes questionável possam ter seu público, mas mostra também que o caráter totalitário ainda está bem presente nas mesmas.

Em nome de um “Mestre Iniciado” que, segundo se diz, curava todas as doenças, ainda se insiste em condenar o uso de preservativos, mesmo diante da epidemia mundial de AIDS, e a se condenar o sexo antes do casamento, sem se levar em conta que nos tempos antigos as pessoas casavam-se praticamente ainda na adolescência e não desenvolviam os problemas psicológicos que podem surgir, decorrentes de um adiamento da experiência sexual em uma espera muitas vezes longa e absolutamente contrária à natureza humana.

Em nome de um “Mestre Iniciado” que, segundo afirmam, teria prometido o derramamento do “Espírito Santo” e dons espirituais genuínos a todos os que cressem, vemos hoje em inúmeras comunidades cristãs pessoas enfrentando problemas seríssimos causados por médiuns exatamente iguais aos médiuns espíritas, sujeitos exatamente aos mesmos acertos ou erros; porém, ao contrário dos médiuns espíritasconscientes e sérios, estes são extremamente pretensiosos, ignorantes e irresponsáveis. São tão ou até mais perigosos do que alguns médiuns espíritas mal orientados, pois estes nem sequer sabem que são simplesmente médiuns, conhecimento que certamente faria um grande bem às suas almas, embora possa certamente fazer um grande mal a seus enormes egos. Tais pessoas se julgam revestidas de santidade e, consequentemente, investidas de infalibilidade, “profetizando” curas e bênçãos de todos os tipos para pessoas que continuam, porém, doentes e cada vez mais distantes das bênçãos anunciadas pela própria mente do “profeta” ou por espíritos zombadores, que encontram amplo terreno para se manifestar livremente em um meio onde muitas pessoas, geralmente detendo um baixo nível de instrução, se consideram “espiritualmente infalíveis”, simplesmente por se dedicarem a práticas absolutamente inócuas e manifestamente ineficazes contra a empáfia dos mesmos, como jejuns regulares, e orações prolongadas no alto de morros tidos como “locais consagrados à oração”.

Em nome de um “Mestre Iniciado”, que segundo se diz, pregou a humildade, seus atuais discípulos fazem questão de ostentar vestuário dito “social”, numa tola demonstração de vaidade que, muitas vezes, compromete parte considerável dos rendimentos destes mesmos discípulos. É de se notar que, apesar de ninguém saber exatamente como os primeiros cristãos se trajavam, ainda existem muitos que julgam seus companheiros de crença em função do vestuário utilizado. Existe atualmente, em boa parte das igrejas cristãs, uma crescente obsessão por uma “prosperidade” que, em muitos casos, não passa de mal disfarçada megalomania, a qual muitas vezes leva a pessoa a uma situação financeira pior, às vezes até mesmo desastrosa. Apesar disso, e em flagrante contraste com o conceito de humildade, esta obsessão por bens materiais é estimulada de forma deselegantemente explícita por muitos chamados “líderes” de comunidades cristãs.

Em nome de um “Mestre Iniciado”, que enfrentou e escandalizou os hipócritas do seu tempo afirmando que meretrizes os precediam no “Reino dos Céus”, muitos dos seus atuais pretensos discípulos, demonstrando total ignorância em relação à misericórdia de tal afirmação, ainda agem exatamente como os falsos religiosos daquele tempo. Ainda hoje há frequentadores de comunidades cristãs de diversas orientações que se julgam membros de uma casta superior, desprezando e referindo-se às pessoas de outras religiões, às vezes até mesmo de outras comunidades cristãs, como se fossem “seres inferiores”.

Em nome de um “Mestre Iniciado”, que teria dito a seus discípulos que eles conheceriam a verdade e ela os libertaria, “líderes” totalmente despreparados, sem um mínimo de cultura, ou seja, conhecimento (em algumas comunidades ditas cristãs, há “líderes” e “autoridades da igreja” que mal sabem ler!), nem um mínimo de condições emocionais para cargos de liderança, oprimem seus rebanhos, impondo-lhes de forma despótica suas próprias opiniões como verdades absolutas, cujo questionamento ou é ameaçado com o “fogo do inferno”, ou dá lugar a uma sumária e piedosa exclusão da comunidade em questão

Notas e referências
1 – ALMEIDA, Prof. João Luiz Carvalho – INTRODUÇÃO E ANÁLISE DO ANTIGO TESTAMENTO – ed. do autor para uso no Seminário Teológico Presbiteriano do Rio de Janeiro.
2 – É bom lembrar que, embora em escala um pouco menor, ainda hoje os mesmos dogmas são utilizados para legitimar discriminações contra pessoas que não seguem cegamente as ordens das lideranças das religiões dominantes, e.g., a proibição pelo Vaticano do uso de preservativos e do sexo antes do casamento.
3 – BITTENCOURT, B. P. – O NOVO TESTAMENTO Cânon Língua Texto Rio de Janeiro e São Paulo, JUERP/ASTE


Fonte: ceticismo.net
http://ceticismo.net/religiao/evangelismo-a-maior-mentira-da-historia/

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