segunda-feira, 4 de março de 2013

Ratos se comunicam por “telepatia” mesmo a milhares de km de distância um do outro


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Mesmo a milhares de quilômetros de distância, um rato era capaz de influenciar o outro, repassando informações às quais só ele tinha acesso, graças a um sistema artificial de conexões neurais desenvolvido por pesquisadores da Universidade de Duke (EUA) e do Instituto Internacional de Neurociência (Brasil). Foi a primeira vez em que um vínculo artificial como esse permitiu que dois animais colaborassem entre si.

As duplas de ratos eram formadas por um “líder” e por um “seguidor”. O primeiro foi treinado para escolher entre duas alavancas com base em um sinal luminoso. O segundo foi treinado para reagir a leves choques elétricos. Por meio de uma série de microeletrodos (cada um com 1% da espessura de um fio de cabelo humano) conectados ao córtex motor primário do “líder”, os cientistas gravavam a atividade neural ocorrida logo antes de o rato escolher qual alavanca puxaria – o padrão de atividade era diferente para cada alavanca.
Em seguida, eles recriavam esse padrão no cérebro do “seguidor”, estimulando os neurônios por meio de um sistema similar de microeletrodos. Tudo isso era feito em segundos.
Apesar de não ter qualquer pista visual, o “seguidor” conseguiu puxar a alavanca correta entre 60 e 72% das vezes. Para o neurocientista Marshall Shuler, da Universidade Johns Hopkins, esse foi um “caso poderoso e especial de condicionamento”. “O que é único sobre isso é que o animal está obtendo informações que não têm nada a ver com o ambiente”, diz.
Quando acertavam, os dois ratos eram recompensados, e esse reforço fez com que os padrões neurais se tornassem mais claros com o tempo, o que elevou os índices de acerto – algo considerado uma grande surpresa. “Isso pode ter ocorrido porque o animal ficou mais atento durante a execução do teste seguinte depois que o ‘líder’ cometia um erro”, explica o neurocientista brasileiro Miguel Nicolelis, que liderou a equipe do estudo.
Ele acredita que é possível transmitir informações obtidas a partir de outros sentidos. “Você pode pensar em paladar, visão – não vejo nenhum problema em fazer isso”, diz.
Em outro experimento, os sensores foram conectados no córtex sensorial somático primário (que, entre outras funções, processa toque), e um rato foi capaz de “sentir” estímulos de toque realizados no outro.
Tecnologias de transmissão de informações desse tipo poderão permitir, no futuro, não apenas a comunicação “telepática” entre animais ou entre pessoas, mas também entre humanos e máquinas (como computadores e próteses).

Grande passo, longa jornada

O pesquisador Christopher James, que trabalha com interface homem-máquina para próteses, considera esse trabalho um “chamado” para acordar as pessoas que não estão acompanhando avanços recentes em pesquisas de neurociência.
Ele ressalta que já existe tecnologia para se criar próteses para uso de longo prazo, mas que ainda não há um entendimento completo de processos cerebrais para se criar uma comunicação mais precisa com outro ser vivo, com uma prótese ou com um computador.
No caso dos experimentos feitos pela equipe de Nicolelis, James diz que os cientistas estão “bombardeando uma área relativamente grande do cérebro com sinais que eles não têm 100% de certeza de que estão corretos”.
Uma transmissão precisa de dados envolveria estabelecer uma ligação neurônio por neurônio, o que não é possível (por enquanto). “Ainda estamos usando um martelo gigante para quebrar uma noz”, compara James, sem, contudo, se esquecer do potencial dessa área de estudo. “Acredito que algum dia será possível transferir pensamentos abstratos”, comenta.[New Scientist] [NBC News]

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